‘Medelín da milícia’: área que Ronnie Lessa ganharia após o atentado hoje está cercada pelo tráfico
27/05/2024
(Foto: Reprodução) Terrenos prometidos pelos Brazão, segundo a delação, ficam em morros até hoje intocados. Há 6 anos, toda a região estava sob o domínio de paramilitares. Ronnie Lessa diz que quadrilha monitorou outros políticos do partido de Marielle Franco
Na delação em que confessou ter assassinado a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, Ronnie Lessa contou que receberia como pagamento pelo atentado uma grande área entre Jacarepaguá e Praça Seca, junto ao Morro da Chacrinha, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. E já tinha até nome: Medelín, em referência à cidade colombiana.
Lá, Ronnie e o comparsa, Edimilson Oliveira da Silva, o Macalé, assentariam uma comunidade e cobrariam toda a sorte de taxas, como comumente as milícias fazem.
A “Medelín da milícia” ficaria nas encostas de 2 morros então desocupados às margens da Estrada Comandante Luís Souto. Na época da emboscada, em 2018, praticamente toda a Grande Jacarepaguá estava sob o domínio de paramilitares.
Hoje, 6 anos depois, os morros seguem intocados, sem sinal de qualquer invasão, mas a região foi tomada pelos traficantes do Comando Vermelho, e são poucos os redutos ainda nas mãos da milícia. Um deles, Rio das Pedras, teve nesta segunda-feira (27) uma tentativa de invasão.
Mapa mostra os terrenos que, segundo Ronnie Lessa, seriam entregues como pagamento do atentado contra Marielle
Infografia: Wagner Magalhães/g1
O Fantástico deste domingo (26) mostrou com exclusividade detalhes da delação de Ronnie Lessa. Foi a 1ª vez que ele admitiu ter praticado o crime que resultou na morte de Marielle e Anderson. Em 2 horas de depoimento gravado, Lessa fala quem são os mandantes, o que receberia pelo crime e o destino da arma usada em 14 de março de 2018.
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Segundo Ronnie, a “Medelín da milícia” tem como vizinhos um haras que pertencia à família Brazão e o antigo Hospital Colônia Curupaiti, que atendia pacientes com hanseníase e fechou — e o terreno foi repassado pela União ao governo do RJ. Outra parte é uma área particular.
Investigadores da PF estiveram no local e fizeram uma perícia. No relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), a PF explicou que “após buscar informações acerca da localidade (...), não foi possível encontrar evidência concreta de projeto ou planejamento de alguma ação no sentido de ocupação da área destacada, seja em momento anterior ou posterior ao crime”.
Mas a perícia emitiu um laudo em que informa a viabilidade para construção no local: “Convém apontar, contudo, alguns indícios que conferem plausibilidade à narrativa do colaborador, uma vez que retratam uma realidade não tão distante dos acontecimentos ora apresentados. Trata-se de elementos que sugerem a capacidade do local em suportar a suposta empreitada e que indicam a participação da Família Brazão em práticas similares às descritas, bem como demonstram o seu interesse e influência na região”.
Na época do crime, o haras da família Brazão ainda funcionava na localidade. A estrutura ainda está lá, abandonada.
Haras da família Brazão
Reprodução