Lanchonetes são suspeitas de lavar mais de R$ 30 milhões do PCC
17/10/2025
(Foto: Reprodução) PF descobriu movimentações milionárias de estabelecimentos usados para lavar dinheiro do PCC
A Polícia Federal descobriu movimentações financeiras milionárias em estabelecimentos comerciais usados para lavar dinheiro do tráfico de drogas.
A lanchonete com mesinhas na calçada e cardápio de sanduíches funciona em uma rua de comércio popular em Santo André, no ABC Paulista. E chamou a atenção dos investigadores pelo sucesso financeiro: movimentou quase R$ 15 milhões durante seis meses em 2023.
A algumas quadras dali, outra surpresa. Uma lanchonete menor, com geladeiras de bebidas, recebeu na conta bancária R$ 17 milhões em quatro anos. Os dois estabelecimentos pertencem à mesma pessoa, que foi alvo de busca e apreensão na quinta-feira (16), em uma operação da Polícia Federal. A principal suspeita é de que os faturamentos tão expressivos serviam para lavar dinheiro do tráfico internacional de drogas.
E três homens, presos em São Paulo, teriam criado uma rede de negócios para essa finalidade. Klaus Volker e Filippe Rocha são donos de empresas - nas áreas de transportes e locação de veículos. Maicon Maia, ex-policial militar de São Paulo, segundo os investigadores, atuava como doleiro. A Polícia Federal diz que os três lavavam dinheiro para pessoas ligadas ao PCC.
Preso desde janeiro, William Barile Agati, apontado como faz-tudo da facção, é citado como um dos principais integrantes da organização criminosa beneficiados pelo esquema. Foi no celular dele que os policiais encontraram os dados das lanchonetes como destinatárias do dinheiro.
Num diálogo num aplicativo de mensagem, Barile indica a conta de um dos estabelecimentos para o pagamento de R$ 50 mil para o transporte de cocaína para o exterior. Em outro momento, um homem, não identificado, diz a Barile: "Nós pagamos a subida e a descida", o que, segundo a polícia, seriam o embarque e desembarque da droga. Barile diz: "Deixa comigo, irmão."
Em trocas de mensagens, os investigados falavam sobre transferências de dinheiro e emissão de notas fiscais em nome de empresas de vários setores.
Segundo a polícia, o grupo usou uma fábrica de placas de sinalização, uma empresa de pisos e até uma igreja e uma clínica da área da saúde. Em uma das conversas, os investigados fazem ironia com o uso do CNPJ de um consultório odontológico para emitir notas frias. No diálogo, Klaus Volker indica a clínica para movimentações financeiras: "Pode sapecar ela", ele diz. Felipe fala: "Haja serviço dentário. Implante para empresa inteira”. Klaus comenta: "Dente branco em todo mundo”.
Os policiais também fizeram buscas em uma distribuidora de combustíveis do interior de São Paulo - já citada em outras operações - que movimentou em dois anos quase R$ 1 bilhão, e ainda em duas fintechs - empresas da área de tecnologia financeira.
Esta é mais uma fase da Operação Mafiusi, que investiga a ligação do PCC com a máfia italiana para enviar cocaína para a Europa pelo porto de Paranaguá, no Paraná. Segundo a PF, os investigados movimentaram R$ 2 bilhões em quatro anos.
O delegado Eduardo Verza diz que é cada vez mais comum o uso da economia formal pelas quadrilhas para limpar o dinheiro:
“Eles injetam o dinheiro proveniente do tráfico de drogas, do crime organizado em geral, através das operações dissimuladas. E, para isso, eles procuram atividades que têm, de certa forma, mais facilidade com fluxo financeiro, como por exemplo distribuidoras de combustíveis, entre outras empresas com objetos sociais genéricos, como consultorias e intermediações. Esse dinheiro precisa retornar para eles com aparência lícita”.
O advogado de Felipe Rocha diz que provará a inocência do cliente e que repudia a associação do nome dele a atividades criminosas. A defesa de William Barile Agati afirmou que ele é alvo de perseguição e que ingressou no STJ com pedido de libertação. Nós não conseguimos contato com as defesas de Klaus Volker, Maicon Maia e com o dono das lanchonetes.
Lanchonetes são suspeitas de lavar mais de R$ 30 milhões do PCC
Reprodução/TV Globo
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