Ficar sem sexo afeta a saúde? O que a medicina já conseguiu comprovar

  • 19/12/2025
(Foto: Reprodução)
Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso falam sobre a frequência do sexo entre o casal A frequência com que uma pessoa faz sexo varia ao longo da vida —muda com a idade, com o corpo, com o relacionamento e com o momento emocional. Ainda assim, a pergunta permanece recorrente em consultórios e estudos científicos: ficar muito tempo sem sexo pode fazer mal à saúde? Para responder, pesquisadores vêm analisando dados sobre sexualidade, bem-estar e indicadores físicos, tentando separar associações observadas do que pode ser considerado efeito direto. Do ponto de vista médico, não há evidência científica robusta de que a ausência de atividade sexual, por si só, cause prejuízos físicos ao organismo. “Em uma pessoa saudável, não existe evidência de que ficar meses ou anos sem sexo provoque um dano direto ao corpo”, afirma a uroginecologista Rebeka Cavalcanti, membro da Sociedade Brasileira de Urologia e da International Urogynecological Association. “O que acontece na prática é que sexualidade e saúde andam juntas. Quem está bem física e emocionalmente costuma ter mais desejo e mais atividade sexual —por isso muitos estudos mostram correlação, mas não causa.” A mesma avaliação é feita pelo ginecologista Juan Félix, do Hospital e Maternidade Santa Helena, da Rede Total Care. Segundo ele, a abstinência sexual não é considerada fator de risco independente para doenças. “As pessoas podem permanecer longos períodos sem sexo sem impacto negativo direto sobre a saúde geral, desde que outros aspectos da saúde física e mental estejam preservados.” Freepik Associação não é causa Parte da ideia de que sexo “faz bem à saúde” vem de pesquisas que associam vida sexual ativa a melhores indicadores cardiovasculares, menor estresse e melhor perfil hormonal. Estudos observacionais publicados em revistas como o British Medical Journal, o New England Journal of Medicine e o Journal of Sexual Medicine identificaram esse tipo de relação ao longo das últimas décadas. Mas os próprios autores desses trabalhos fazem a ressalva: associação não significa efeito direto. “Pode ser que pessoas que dormem melhor, se exercitam, têm menos estresse e relações mais satisfatórias também façam mais sexo —e isso ‘puxa’ os resultados”, explica Rebeka Cavalcanti. “A ciência ainda não consegue afirmar que o sexo, isoladamente, previne infarto ou outras doenças cardiovasculares.” O que está bem documentado são efeitos de curto prazo. Durante a atividade sexual e o orgasmo, ocorre liberação de substâncias como endorfina, oxitocina e dopamina, ligadas à sensação de prazer, relaxamento e bem-estar. Esse efeito agudo foi descrito em estudo publicado no World Journal of Urology. “Essas respostas hormonais são reais, mas transitórias”, explica Juan Félix. “Elas melhoram o humor naquele momento, mas não podem ser interpretadas como proteção sustentada à saúde.” Freepik A ausência de sexo afeta a saúde íntima? Entre mulheres em idade reprodutiva, os especialistas são categóricos: ficar sem sexo não altera o pH vaginal, não compromete a lubrificação basal nem aumenta o risco de infecções. Esses parâmetros dependem principalmente do estado hormonal, da microbiota vaginal e de fatores como estresse, sono e uso de medicamentos. Isso não significa, porém, que a atividade sexual seja irrelevante para a saúde íntima. Segundo a uroginecologista Rebeka Cavalcanti, a relação sexual regular pode contribuir para a manutenção da elasticidade e da vascularização da mucosa vaginal, por meio do estímulo mecânico e do aumento do fluxo sanguíneo local — fatores que ajudam a preservar o trofismo do tecido ao longo do tempo. O ginecologista Juan Félix acrescenta que, em muitos casos, é a própria atividade sexual que pode modificar o pH e a microbiota vaginal, dependendo do parceiro e da exposição a novas bactérias — e não a ausência de sexo. Na menopausa, o cenário muda — mas não por causa da falta de sexo. O ressecamento vaginal e a dor durante a relação estão ligados principalmente à queda do estrogênio, quadro conhecido como síndrome geniturinária da menopausa. “Mesmo mulheres com vida sexual ativa podem apresentar ressecamento e dor se não tratam a causa hormonal”, afirma Rebeka. “A atividade sexual pode ajudar a manter conforto, elasticidade e vascularização local, mas não é tratamento por si só. Quando há sintomas, a abordagem envolve lubrificantes, hidratantes vaginais e, quando indicado, terapia hormonal.” Estudo aponta que masturbação pode ajudar a aliviar sintomas da menopausa. Deon Black/Pexels Masturbação entra nessa conta? Parte dos efeitos fisiológicos atribuídos ao sexo pode ser obtida sem parceiro. A masturbação e o orgasmo também aumentam o fluxo sanguíneo na região genital, estimulam lubrificação e promovem relaxamento. “Do ponto de vista do corpo, os benefícios ligados à excitação e ao orgasmo não dependem necessariamente da atividade sexual com outra pessoa”, afirma Rebeka. “O que não é equivalente são os componentes relacionais, como vínculo, intimidade e troca afetiva.” Quando a questão deixa de ser física Se o corpo costuma lidar bem com a ausência de sexo, o impacto emocional varia muito de pessoa para pessoa. Para a psicóloga clínica e psicanalista Vivianne Beserra, o sofrimento não está na falta de sexo em si, mas no significado que ela assume. “Se a pessoa está bem conectada, se sente vista, considerada, e existe acordo —dentro ou fora de um relacionamento— a falta de sexo pode ser neutra.O sofrimento aparece quando um deseja e o outro não, porque aí entra a sensação de rejeição. E a rejeição costuma doer mais do que a ausência de sexo.” Vivianne ressalta que há diferença entre abstinência voluntária e involuntária. “Quando é involuntária, muitas vezes gera sofrimento, porque o desejo segue pulsando. Em alguns casos, a pessoa vai se anestesiando, se afastando da própria condição de sujeito desejante.” Não existe frequência 'normal' Outro ponto de consenso entre especialistas é que não existe uma frequência sexual ideal válida para todas as pessoas ou casais. “Esse ritmo muda ao longo da vida e varia conforme a parceria”, afirma Vivianne. “Não existe tabela, fórmula ou número certo. Cada relação encontra seu próprio ajuste — e a mesma pessoa pode viver ritmos completamente diferentes ao longo da vida.” “O problema não é a falta de sexo em si”, resume Rebeka Cavalcanti. “É o que está por trás dela.”

FONTE: https://g1.globo.com/saude/sexualidade/noticia/2025/12/19/ficar-sem-sexo-afeta-a-saude-o-que-a-medicina-ja-conseguiu-comprovar.ghtml


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